40 Dicas de Produção Musical, Parte 08 de 40

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Parte 08 de 40

(extraído do curso Vamos Fazer a Boa)

Um Bom Arranjo

Já foi dito que o segredo de uma boa mixagem é um bom arranjo, e eu concordo plenamente com isso.

Vou contar uma historinha sobre uma música que enviaram para que eu mixasse.

A música era legal e estava bem tocada, foi bem gravada também, tinha um bom som de bateria, baixo, guitarras, violões e de voz, não foi difícil fazê-la soar bem, mas o arranjo me impossibilitava de conseguir uma boa mixagem.

Entenda bem, uma boa mixagem não tem a ver somente com bons sons, mas também com contraste, momentos em que um instrumento entra, em que outro sai, momentos em que instrumentos tocam de forma ou em regiões diferentes pra toanar a música interessante.

Vou descrever o arranjo da música.

Era um Pop Rock onde a bateria tocava o tempo todo com o Chimbau aberto. Nada de acompanhamento em chimbau fechado, Ride, Crash, ou até mesmo somente bumbo e caixa.

O baixo fazia a marcação em colcheias, seguindo as notas da guitarra.

Haviam quatro canais de guitarra. Um deles fazia uma levada com acordes abertos com drive, tocada meio como um violão.

Os outros três também, hehehe, a mesma levada e exatamente o mesmo timbre.

Depois haviam dois canais de violão, ambos fazendo a mesma levada da guitarra, na mesma região do braço.

Havia somente um canal de voz, nada de backings no refrão, coros… Nada, só uma voz principal.

Nada de percussão.

Comecei a levantar a música e em pouco tempo consegui uma boa sonoridade, quando a música entrava ela causava impacto, estava tudo lá, pulsando e com energia. O problema é que essa energia do início se repetia ao longo de toda a música, tornando-a bem chatinha…

Mandei um e-mail para o cliente e perguntei o porquê do arranjo, o que ele tinha em mente, se pretendia que eu usasse somente o violão em partes, porque gravou quatro guitarras iguais e a resposta me surpreendeu.

“Não pensei muito nisso, precisavamos lançar logo e fui gravando.”

Rapaz…

Aí perguntei se ele me daria liberdade pra usar o que eu quisesse na hora que quisesse. Ele topou.

Bom, a bateria não tinha muito o que fazer. Um chimbau aberto é um chimbau aberto, mesmo que eu baise o volume dele, e a inteção dele será sempre a mesma… Então tá, bateria fica como está.

O baixo também.

Quando a voz entrou, tirei as guitarras e deixei somente os violões.

Na segunda parte do verso as guitarras entraram.

No refrão adicionei uma pandeirola e uns backing vocals de tercinhas que criei com o Melodyne.

Pronto, sem dúvidas que a música poderia ficar muito melhor com um bom arranjo, mas já ficou bem mais interessante. Ele curtiu e fechamos a tampa 😀

Um bom arranjo dá destaque pra cada instrumento no momento certo.

Se é o momento da voz aparecer, os instrumentos tocam de forma que ela apareça, seja dando pausas, abafando as guitarras, fechando chimbau, ou tocando mais leve.

O que não significa que quando a voz canta o mundo para. Os instrumentos podem responder a voz, tornando o arranjo mais interessante.

Pausas bem colocadas, timbres bem escolhidos, regiões diferentes pra instrumentos similares (uma guitarra tocando no grave, outra no agudo, por exemplo), tudo isso melhora ao arranjo e por consequência a mixagem e a música como um todo.

Lembrou de alguma música sua que pode ser melhorada? Excelente, refaça uns detalhes do arranjo e depois me mande pra mixar 😀

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um grande abraço

Paulo Anhaia

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6 comments

  • Concordo plenamente. Maior problema de bandas em início de carreira(ou sem um direcionamento de produção) é a competição instrumental, todos querendo mostrar serviço 100% do tempo, isso não é ruim, mas menos é mais e, em muitos trechos o básico fica lindo, mas fazer um “básico lindo” não é tão mole assim. Arranjo é dinâmica também, achar as nuances corretas, organizar as entradas de cada instrumento sem perder o brilho e sem ficar na mesmice. Exemplo claro disso é música clássica, Jazz, gigantes alterações na dinâmica(intensidade do toque e não somente volume), de modo que você nunca sabe o que está por vir e apenas sente as nuances se transformando. A impressão que cada nuance causa é que é a real intenção da música, te trazer novos sabores!

  • Raul Lima

    Massa!!!! Excelentes dicas Paulo…Obrigado!!!!

  • Joaquim

    Engraçado!! Você falando a gente quase pode ouvir a música!!! Chimbau aberto o tempo todo é como se fosse um bando de zumbis invadindo a cidade!!! A unica coisa que escapa são os “gritos” do vocalista!!. Você esculpiu em mármore!! valeu!!

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