Melhor aproveitamento do tempo em estúdio

Publicado originalmente no site Rockonline em15/08/2001

aproveitamentoE aí galera, beleza? É com imenso prazer que eu passo a dar continuidade a coluna pré-produção, e logo de cara resolvi usar como tópico o que eu considero um dos maiores problemas no processo de gravação. O tempo!

O tempo dentro de um estúdio de gravação passa voando e custa dinheiro. Se você pretende gravar o seu trabalho num estúdio de médio porte você vai pagar pelo menos R$50,00 por hora. Um estúdio de grande porte pode custar em torno de R$200,00 por hora. É muito fácil ficar paranóico ao pensar que cinco minutos perdidos dentro de um estúdio podem te custar R$16,00!!! E que pra gravar uma música você vai precisar de no mínimo umas doze horas de estúdio!!!

Mas calma, respire fundo, conte até dez e prossiga com a leitura.

O grande segredo está numa coisa chamada “pré-produção”. A pré-produção consiste em preparar o terreno para que tudo flua de forma objetiva dentro do estúdio. Vamos por partes:

Preparação em ensaio
Esta é sem dúvida nenhuma a parte mais importante. Você ouve os discos dos seus artistas prediletos, e fica pensando: – Se eu tivesse a estrutura que estes caras tem, eu estaria feito!!! Aí você pega sua banda vai para o melhor estúdio da cidade, perde horas e horas para a gravação, e vai todo contente para casa mostrar a sua “obra de arte” para seus amigos. Você põe o seu CDR para tocar e percebe que seu trabalho em relação aos dos artistas que você tomou como referência está medíocre…

Erro número um: Equipamento não faz música de qualidade. Músicos fazem música de qualidade!

Para ter um bom som de bateria você precisa primeiro de um bom baterista, que tenha uma boa constância de andamento (tempo), constância de pegada e uma boa concepção de arranjo. Em segundo lugar, de uma boa bateria, que seja adequada ao estilo de música que você pretende gravar. Se você quer um som de caixa como o da banda AC/DC, não adianta levar uma caixa piccolo e esperar que o técnico faça algum tipo de milagre. Em terceiro lugar vem o técnico de gravação, que deve ser uma pessoa que entende do estilo que vai ser gravado e que consiga um bom entrosamento com os músicos. Só aí é que vem o equipamento!

Então o lance é o seguinte: Certifique-se de que cada nota que você toca na música esteja sendo executada de forma clara e definida, certifique-se de que não haja erros de harmonia no seu arranjo (diversas vezes eu vi um guitarrista tocando um acorde de Dó menor, enquanto o tecladista tocava um acorde de Dó maior, e os caras tocavam dessa forma a anos, e vieram a descobrir o erro no estúdio! Puro desleixo!) Se existe alguma determinada parte da música que ainda não está totalmente resolvida ou que você possua alguma dificuldade técnica, você tem duas opções. Esqueça a idéia original e crie algo que você consiga tocar com mais naturalidade, ou estude esta parte como um louco, “26 horas” por dia, até conseguir tocar a passagem com os olhos vendados, debaixo da água e com as duas mãos amarradas nas costas!

Não espere momentos de inspiração e luz divina dentro do estúdio
Em geral estúdios são locais frios (em todos os sentidos da palavra), lotados de equipamentos que te intimidam e com pessoas que você nunca viu na vida, mas em quem você está depositando todas as suas esperanças de um bom resultado sonoro. Ah! E ainda tem a galera da sua banda olhando pra sua cara, ao invés de olhar para seus próprios instrumentos.

Não deixe para improvisar o seu magnífico solo de guitarra dentro do estúdio, ou para tentar alcançar aquela nota aguda que você jamais alcançou com sua voz em toda a sua vida. Ou ainda para resolver aquele pedacinho da letra que faltava na segunda parte da música. Simplificando, esse papo de inspiração é muito bonito e etc. Mas não espere que Deus olhe aqui pra baixo e diga: – Vou ajudar este pobre músico a fazer a performance de sua vida. Se liga! Ele tem muito mais a fazer do que ficar ajudando músicos preguiçosos a se dar bem!!!

Faça a lição de casa. Prepare a sua banda. Você vai gravar com um metrônomo marcando o tempo? Então treine em casa com um metrônomo, e depois ensaie com um metrônomo. Não deixe para ser apresentado formalmente ao metrônomo dentro do estúdio. A adaptação leva algum tempo e quando uma hora vale R$200,00, tempo é dinheiro. É muito dinheiro!!!

Agora vamos aos instrumentos
Usar uma guitarra boa para gravar é essencial. Mas não considero uma boa idéia, pegar aquela Gibson Les Paul de seu amigo no dia da gravação para só depois descobrir que ela tem o braço bem menos confortável, e a afinação bem menos estável que a sua guitarrinha velha. Se você pretende usar um instrumento diferente do que está acostumado a tocar, pegue-o pelo menos quinze dias antes da gravação, para ter tempo de se adaptar, checar se ele está em boas condições de afinação, se está tudo funcionando na parte elétrica, e se realmente vale a pena usá-lo na gravação.

Cordas Novas, cabos de boa qualidade, pedais, fontes de pedais em perfeito funcionamento, e até baterias sobressalentes para pedais e captadores ativos, são mais do que necessários. Peles novas para a bateria, também são muito bem vindas, afinam e soam muito melhor. Se você vai levar a sua bateria para o estúdio, troque as peles uns dias antes de levá-la para o estúdio. Se vai usar a bateria do estúdio (geralmente os estúdios tem uma bateria própria), certifique-se se você pode chegar horas antes, ou até mesmo ir no dia anterior ao de sua gravação para trocar as peles da bateria. Nem sempre o estúdio te permite fazer isso, mas não custa tentar.

Cheque se o estúdio tem amplificadores próprios (nem todos os estúdios tem!), se eles estão inclusos no preço da hora, ou se você tem que pagar alguma taxa extra pelo uso dos mesmos. Se caso você for usar seu próprio amplificador, ou pegar algum emprestado, cabe aqui o mesmo que foi dito sobre guitarras. Cheque se está tudo funcionando corretamente. Existem outras formas de gravar guitarras através de pré amplificadores com simulação de falantes, e mesmo softwares simuladores de amplificadores! Ei! Não seja radical! Você se assustaria se soubesse quantos discos você ouviu na sua vida onde as guitarras e os baixos foram gravados desta forma. Se o estúdio onde você vai gravar possui algum equipamento deste tipo experimente. Você pode se surpreender. Muito!

Ei! Eu estou gostando disto, e tenho muito pra falar. Muito mesmo. Mas vou continuar na próxima edição, dando continuidade ao assunto, só que desta vez falando sobre a organização do dia de trabalho dentro do estúdio. Um abraço a todos e ‘Keep on Rockin’.

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