Live Sound, ou ‘Whaddahell’s a P.A.???

Publicado originalmente no site Rockonline em 15/05/2002

LiveE aí? Sentiram minha falta? Sabe como é, quinhentas coisas diferentes pra fazer, o dia tem apenas 24 horas, a semana tem apenas sete dias e acabei me enrolando e não escrevendo as matérias que gosto muito de escrever para o Vitrine. Peço desculpas a todos vocês e prometo não falhar mais, vocês sabem, promessa é dúvida… Quer dizer, dívida!!!

Na coluna deste mês vamos falar sobre a sonorização de shows, um sistema muito complexo que vem evoluindo cada vez mais.

No início dos tempos, quando a terra ainda era jovem (já ouvi isso em algum lugar…) pouco antes de inventarem a guitarra elétrica (devia ser um tédio fudido…), as apresentações de música eram feitas apenas com instrumentos acústicos, portanto, ou se fazia shows em locais pequenos onde um violão, por exemplo, pudesse ser ouvido por todos da platéia, ou se fazia shows em salas de concerto, onde a acústica ajudava a “espalhar” o som para os ouvintes. Com o surgimento da guitarra elétrica (viver começava a se tornar algo interessante!) surgiram também os primeiros amplificadores (é óbvio!), e com eles os músicos começaram a maratona de volume na qual nos vemos até hoje. Por exemplo, a guitarra ficou mais alta que a banda toda, aí eles tiveram que achar uma forma de colocar um captador no contrabaixo (note que estamos falando em final dos anos quarenta, início dos anos cinqüenta, logo o contrabaixo ainda era apenas acústico), o baterista teve que começar a sentar a porrada na bateria, e os fabricantes de bateria tiveram que começar a pesquisar outros tipos de materiais que dessem mais volume sonoro ao instrumento. Naquela época fazer um show era uma coisa por um lado muito simples, e por outro, muito complicada, já que não havia muito o que pudesse se feito para melhorar o som.

Quando os Beatles tocaram no Shea Stadium em 1965 (lá vem ele falar de Beatles de novo…) eles estavam num estádio, tocando pra uma platéia formada quase que na totalidade, por milhares de garotinhas adolescentes histéricas que berravam sem parar, e os únicos equipamentos que eles tinham eram três amplificadores VOX (dois de guitarra e um de contrabaixo), a bateria do Ringo e dois microfones de voz (e hoje a gente reclama dos locais de show…) e tudo isso saía diretamente nas caixas de som do estádio, sabe aquelas usadas pra anunciar o nome dos jogadores? Com aquele som bonito de vendedor de cândida (“Olha a cândida, água de lavadeira!”). Conclusão, o som ficava uma grande bosta, ninguém ouvia porcaria nenhuma e pouco depois eles entraram num acordo de não fazer mais shows, pois simplesmente não haviam condições técnicas pra isso.

Com o surgimento de bandas como o Cream (até que enfim falou de outra banda!) o power trio formado no final dos anos sessenta por Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker, surgiram os primeiros “paredões” de amplificadores. Os “Marshall” de guitarra (adoro Marshall!) e os “Sun Colliseun” de contrabaixo, começavam uma nova etapa, no volume sonoro dos amplificadores de palco. Tudo certo então? Não, de jeito nenhum! E o batera como é que ficava? Não se ouvia a bateria, porque a concorrência era desleal, nêgo punha cinco “amplis” de guitarra e cinco de contrabaixo e o batera só tinha as mãos pra resolver a coisa… Voz então nem pensar! Até que um dia alguém teve a feliz idéia de colocar uns microfones na bateria e mandá-la para as caixas de voz! (esse cara merecia um prêmio Nobel!) Surgia assim o que é conhecido como P.A!!!

O P.A. (vem de public address, ao pé da letra, “endereço ao público”) é um conjunto de equipamentos formado por vários microfones, uma mesa de som, periféricos (efeitos, compressores, equalizadores, etc.) potências e caixas acústicas. Se você já foi a algum show já deve ter visto um figura com cara de louco no meio do público, com uma mesa cheia de luzinhas coloridas (esse é o tal do “técnico de som”) e outros equipamentos, e uma pilha de caixas que ficam nas laterais do palco. Isso é um P.A., com ele ficou possível “dosar” a relação de volume entre os músicos, e “timbrar” os instrumentos em separado, tornando a experiência de um show, muito mais interessante.

Mas aí surgiu um pequeno problema. Já ficou atrás de uma caixa de som com volume alto? Não experimente aí na sua casa. Já experimentou? OK, ouviu o que aconteceu com os agudos? Eles se foram. Porque as freqüências graves são omnidirecionais, ou seja se espalham pelo ambiente todo, atravessando paredes inclusive, já os médios e agudos são direcionais, e precisam estar direcionados para o seu ouvido. Experimente colocar a mão na frente do tweeter de suas caixas de som. O agudo se foi não é mesmo? Isso torna a experiência de estar atrás, ou do lado de um P.A. (local onde os músicos costumam tocar) extremamente desagradável. A voz, que necessita absurdamente de médios e agudos, parece estar vindo de “algum lugar distante”, não se define direito afinação, muito menos timbre.

Para resolver esse problema foi criado o “sistema de monitor” (o cara que criou isso merecia, pelo menos, dois premios Nobel!!!). Já foi em algum show? (Se não foi, tá esperando o que???) Já viu aquelas caixas que ficam no chão viradas para o músico? (Bruce Dickinson adora cantar pisando nelas!) Pois é, aquelas caixas são chamadas de “monitores” (ou “retorno”). No começo elas eram usadas só para dar um reforço para a voz, mas com o tempo foram criadas mesas especialmente para monitor, que permitem fazer várias mixagens diferentes, assim os músicos podem escolher o que cada um gosta de ouvir em seus monitores! (três prêmios Nobel pra quem inventou a mesa de monitor!!!) Ou seja, o vocalista, se quiser, pode ter apenas a sua voz em seu monitor, enquanto o baixista pode ter um pouco da bateria e das guitarras, o baterista pode ter apenas o contrabaixo e a voz e o técnico pode ficar completamente louco tentando atender a todos ao mesmo tempo…

O equilíbrio entre o P.A. e o monitor é crucial para um bom som no show. Nós falamos sobre a característica omnidirecional dos graves e direcional dos médios e agudos, certo? Ok, e se a voz, por exemplo, estiver muito mais alta no monitor do que no P.A.? Teremos um grande problema, o público estará ouvindo muito mais a voz do monitor do que do P.A. Os graves do monitor, já que são omnidirecionais, estarão indo para o público, enquanto que os agudos e médios não estarão. Isso fará com que a voz fique “opaca”, sem brilho e definição. Existem duas formas de resolver isso, ou você aumenta o volume do P.A., o que pode não ser uma boa idéia, principalmente se ele já estiver assustadoramente alto, ou você diminui um pouco o monitor, o que pode não ser uma boa idéia, por que o pentelho do vocalista pode te dizer: – Eu não tô me ouvindo, eu não tô me ouvindo!!! (vocalistas…). Parece difícil não é mesmo? Seja bem vindo ao mundo maravilhoso dos técnicos de som!

Para resolver esse problema surgiu um outro doido (esse merece pelo menos quatro prêmios Nobel!) que inventou um sistema chamado “In Ear Monitor” (monitor dentro do ouvido), que nada mais é do que um pequeno fone de ouvido, ligado a um sistema sem fio. Agora o músico podia ter a sua mixagem, com os instrumentos que ele quiser, no volume que ele quiser, diretamente dentro de seu ouvido, com a vantagem de que em qualquer lugar do palco ele estará ouvindo o mesmo som, com o mesmo equilíbrio (antes quando ele ficava perto de outro músico era obrigado a ouvir o que o outro músico queria ouvir em seu monitor), de não ter essa “guerra” de volume em relação ao P.A. E do palco ficar bem mais “limpo” sem todas aquelas caixas na frente dele. As coisas vão ficando cada vez mais fáceis! Bandas como Queensrÿche, Metallica e Kiss, já usam esses sistemas a alguns anos.

A dificuldade do IEM (In Ear Monitor) se dá somente com relação a reprodução dos graves, pois os diafragmas dos fones são muito pequenos, mais voltados para a reprodução dos médios e agudos. Assim sendo, alguns músicos apesar de usar o sistema IEM, ainda usam no palco o “side fill” (espécie de P.A. virado pra dentro do palco com uma mixagem geral da banda) pra dar aquele “peso” que falta. Principalmente os bateristas reclamam muito disso (bateristas…). Para eles foi crido um sistema que é uma espécie de “bazuca” de graves que vai acoplado a haste do banco de bateria, esta “bazuca” reproduz a vibração do grave que o baterista sente quando toca o bumbo, por exemplo. Apesar de parecer “meio gay” a idéia de um troço vibrando no teu banquinho, é um sistema muito funcional e várias bandas estão fazendo uso dele.

O que mais falta? Já ouviu falar em P.A. Surround? Pois é, acho que foi o Pink Floyd que no final dos anos setenta começou a fazer experiências ao vivo com o que era chamado de som “quadrifônico”. O sistema quadrifônico envolvia quatro caixas acústicas, com uma mixagem diferente para cada caixa, ou seja, um determinado instrumento poderia ser ouvido em apenas uma caixa, enquanto outro poderia ser ouvido em todas elas, de acordo com o critério do técnico de som, o ouvinte se posicionava no meio das quatro caixas, tendo assim uma noção de som tridimensional. Quem foi ao show do Roger Waters sabe muito bem do estou falando. O sistema quadrifônico foi o precursor do sistema surround, e hoje já existem várias turnês de artistas grandes que contam com o P.A. Em surround.

Viram as dificuldades e a evolução em que chegamos nos últimos anos? Pois é, agora quando for a um show, fique ligado no que está acontecendo na mesa de som, no sistema de monitor e aproveite um pouco mais dessa arte que é fazer um bom “Live Sound”.

‘Best Wishes’, e ‘Keep on Rockin’!!!

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