Gravação de bateria

Publicado originalmente no site Rockonline em 15/10/2001

bateriaE aí galera, beleza? Sentiram minha falta? Pois é, estou de volta!

Nesta nova matéria resolvi falar sobre um instrumento muito, mas muito difícil de gravar e conseguir um bom resultado. A bateria!

O problema começa porque a bateria não é apenas um instrumento, e sim vários!!! Um conjunto de tambores, pratos e outros elementos de percussão (cowbell, chimes, sinos, e etc.) formam o instrumento que chamamos de bateria.

Um kit básico de bateria é formado por um bumbo (Bass drum ou Kick drum), uma caixa (Snare drum), dois toms (Toms!), um surdo (Floor tom), um chimbau (Hi hat), também conhecido como “contratempo” pelos cariocas, e “xipô” para os gaúchos (um abraço aos meus amigos do Hangar!!!) um prato de ataque (Crash), e um de condução (Ride).

Nos primórdios da gravação, o kit todo era microfonado com apenas um microfone um pouco distante, chamado de microfone ambiente (o chamado “Ambient miking”). Os Beatles, que no início microfonavam a bateria com um microfone no bumbo e um ambiente, foram os primeiros a microfonar a bateria peça por peça (“Close miking”), o que definia muito melhor o som dos instrumentos, e também foram os primeiros a microfonar uma bateria em estéreo (com os instrumentos da esquerda da bateria se ouvindo mais no canal esquerdo de seu aparelho de som, e vice versa). Estamos falando de história muito recente, pois a gravação em estéreo surgiu no final dos anos 60!

Esta breve explanação serviu para que entendêssemos de onde vêm os métodos usados hoje em dia para gravar a bateria.

Primeiro de tudo, um bom som de bateria, começa com um bom baterista! Mesmo tendo microfones separados para cada instrumento, e vários outros recursos técnicos, o equilíbrio principal entre as peças, e mesmo o timbre dos instrumentos, vêm da forma com que o baterista toca. Isso sem falar do andamento!

Para ter um bom resultado, é importantíssimo que o baterista preste muita atenção na forma como ele toca. Se ele quer que o bumbo tenha um som bem definido, ele tem que ouvir o bumbo bem definido enquanto toca, se o seu chimbau soa muito alto em relação ao restante de seu kit de bateria, ele vai soar alto na gravação também. A coisa é mais ou menos assim, você tem de ouvir, mesmo em casa, enquanto toca o som que você quer ouvir gravado. Isto é trabalhoso, exige disciplina, paciência (pode demorar muito tempo até que o baterista consiga fazer isto), e várias experiências com posições de peças, afinações, e mesmo instrumentos diferentes. Um metrônomo (dispositivo mecânico ou eletrônico que “marca” o tempo da música) pode ser um ótimo amigo. Apesar de te “infernizar” a vida durante um tempo, ele te faz perceber variações no ritmo e andamento em que você toca. Em torno de 85% das gravações de bateria que faço são feitas com metrônomo e o resultado geralmente fica muito mais coeso.

Um bom instrumento é fundamental. Se os tambores de sua bateria têm um bom volume sonoro, fica mais fácil “equilibrar” o som com os pratos, que geralmente “falam” alto pra cacete. A escolha dos instrumentos (tambores, pratos, peles, e até baquetas e pedal de bumbo) depende muito do som que você está procurando. Aí existem duas opções, ou você grava com o que você tem, opção econômica, ou você procura saber o que as bandas que tem o som de bateria que você está procurando usam, e compra ou aluga um equipamento similar. É mais caro, mas a possibilidade de conseguir um bom resultado é bem maior. Procure se informar, ás vezes o estúdio que você vai gravar possui um bom equipamento que você pode usar, já incluso no preço, ou mediante algum pagamento adicional.

Beleza! Você já está ciente de que o principal para um bom resultado sonoro, está na “pegada” do batera, e no instrumento que ele vai usar para gravar. Agora vamos falar sobre microfonação.

Existem vários microfones que já se tornaram “padrão” para a gravação de bateria, e em cada estúdio você vai encontrar um “setup” de microfones diferente, portanto não vou entrar em detalhes sobre qual o melhor microfone para isso ou aquilo. Tem algo que costumo dizer: – “O melhor microfone é o microfone que temos!!!” (afinal, o que não temos não podemos usar!!!).

Confie no técnico que for trabalhar com sua banda, ele lhe dirá o melhor microfone que o estúdio dispõe. Se você não confia no técnico que está gravando sua banda, acho melhor se perguntar se vale a pena continuar gravando com ele!

Eu geralmente prefiro salas largas e altas para gravar bateria. Você tem mais espaço para experimentar com microfones ambiente, e pode conseguir um som “maior”, mas aqui se aplica o mesmo que se aplica aos microfones: “A melhor sala para gravar é a que temos!”. Sempre consiga o melhor resultado possível com o que você tem em mãos.

Vamos falar agora sobre métodos diferentes e seus resultados. O “close miking” ou técnica de microfonar peça por peça, te dá um controle muito maior do volume individual de cada peça, e te permite equalizar de forma diferente, e colocar efeitos em peças separadas. Um exemplo deste tipo de som pode ser ouvido na música “Symphony of Destuction” do Megadeth. Bastante definição das peças em separado, bastante som de “kick” no bumbo, mas também um som um pouco “menor” do kit de bateria.

Um ótimo exemplo de “ambient miking”, microfonação distante ou ambiente, pode ser ouvido nos discos do Led Zeppelin. Diversos daqueles sons de bateria maravilhosos foram conseguidos com apenas três microfones, um no bumbo e dois ambientes. A definição, e separação entre as peças é bem menor, mas em compensação o som da bateria é bem “maior” porque além do som do instrumento direto para o microfone, a reflexão do som da bateria na sala também é captado. Vindo de várias fontes o som fica bem maior.

Você pode usar a bateria microfonada peça por peça e ainda assim usar alguns microfones ambiente. Esta é uma das formas mais comuns de gravação de bateria.

Outra forma de gravar bateria é com triggers. Triggers (gatilhos em inglês) São pequenos “microfones de contato” eles ficam em contato direto com as peles da bateria, e sevem para “disparar” timbres previamente gravados em samplers, teclados, e mesmo módulos de som de bateria (os mais populares são “D4”, “Dm5”, e num nível mais alto o “Ddrum”). Ei!!! Sem preconceitos! Você ficaria surpreso com a quantidade de discos que você gosta que foram gravados desta forma. O interessante deste método é que você pode usar sons já existentes, que podem até ser tirados de Cd’s que você gosta. Como o som é somente uma “amostra” (sample) que se repete sempre que você toca o instrumento, você tem uma maior constância de timbre. Bons exemplos destes métodos podem ser ouvidos nos discos do “Judas Priest” com “Scott Travis” na bateria, no disco “Images and words” do “Dream Theater”, e no disco “Psycho Circus” do “Kiss”. A desvantagem deste método é que como temos só uma amostra de som, a coisa pode se tornar um pouco “sintética”, e sem grandes variações de dinâmica. Isto pode ser percebido principalmente em frases rápidas feitas na caixa e toms.

Agora vem o método que eu acho o mais interessante, eu o chamo método “híbrido” (ou tudo ao mesmo tempo agora!). Microfones close, ambientes, triggers, tudo ao mesmo tempo. A bateria pode ter a definição (close), ter um som bem “grande” (Ambient), e bem constante (triggers). Apesar de bem mais trabalhoso, e difícil de ser conseguido, o resultado é muito, muito bom. Uma coisa interessante é que você pode dosar microfones ou triggers, de forma diferente para realçar diferentes partes da música. Novamente, o som vindo de várias fontes se torna bem maior. Exemplos bons deste tipo de método podem ser ouvidos no trabalho do produtor canadense Bob Rock. O disco homônimo da banda “Motley Crue” (um dos sons de bateria mais assustadores que eu já ouvi), os discos “Load”, “Reload”, e “Black Álbum” da banda “Metallica” são ótimos exemplos deste método.

Para finalizar, para conseguir um bom som de bateria não existem regras, existem sim meios que já foram testados e que sabemos que funcionam bem. Como disse antes, o processo de gravação de bateria é algo muito recente. Confie em seus ouvidos, em seu gosto pessoal, e no técnico que estiver gravando contigo. Uma boa conversa com o técnico antes da gravação e a audição de alguns Cd’s como referência é sempre de grande ajuda.

Um abraço a todos e ‘Keep on Rockin’.

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