Entendendo os efeitos

Publicado originalmente no site Rockonline em 15/02/2002

E aí galera, beleza?

efxEstou de volta! E na matéria deste mês vou falar sobre os efeitos, e sobre como eles funcionam, dando também algumas dicas de como utilizar melhor a cada um deles. Você sabe como funciona um Chorus? A diferença entre um Flanger e um Phaser? A diferença entre Delay e Reverb? Pois é, eu vou tentar dar uma geral em tudo isso. O assunto é muito abrangente, mas farei o possível para ser bem claro e objetivo.

Os efeitos mais populares são os famosos pedaizinhos de guitarra, e os poucos controles encontrados nesses pedais, geralmente alteram os parâmetros principais, que caracterizam o efeito, portanto vou me prender mais nestes poucos controles.

Processadores de áudio
Embora não sejam exatamente efeitos, os processadores são também encontrados em pedais e racks, e são os principais modeladores de som. Vamos começar pelo mais comum deles:

O equalizador
O equalizador pode ser encontrado em praticamente todos os sistemas de som. Sistemas domésticos, automotivos, amplificadores de guitarra e contrabaixo, todos eles tem algum tipo de equalização, mesmo que seja um simples controle de grave e agudo. O equalizador nada mais é do que um controle de volume de uma determinada freqüência.

As ondas sonoras se encontram em freqüências diferentes, por exemplo: uma onda sonora grave, tem um ciclo mais largo do que uma onda sonora aguda (ciclo mais estreito), e nossos ouvidos percebem essa diferença. O ouvido humano é capaz de captar freqüências de ciclos de 20Hz (extremamente grave) até 20KHz (extremamente agudo). Geralmente os controles de grave de um aparelho doméstico são fixados em 100Hz, e os de agudos em 10KHz. Quando você aumenta o controle de grave de seu aparelho o que você está fazendo é aumentar o volume da freqüência 100Hz.

Outro tipo de equalizador, é o equalizador gráfico, aquele que tem vários controles deslizantes, cada um correspondendo a uma freqüência diferente. Eles podem variar muito na quantidade de controles, alguns tem apenas três, e outros chegam até trinta e um, possibilitando uma equalização muito mais precisa.

Outro tipo de equalizador, é o equalizador paramétrico. A diferença é que, além de ter controle variável sobre a freqüência e o volume dela, você ainda tem controle sobre a amplitude (que é chamada “Q”), que é o quanto as freqüências vizinhas vão ser alteradas. Esta variação de “Q” também acontece nos outros tipos de equalizadores, só que você não tem controle sobre isso, pois os valores são pré-fixados.

O compressor
Outro processador muito conhecido, é o compressor. Afinal, para que serve um compressor? Boa pergunta! Em um estúdio de gravação, o compressor é um dos equipamentos mais úteis, e mais usados! Vamos pensar num volume que vá de zero a dez. Aí um cara está cantando, e o volume de voz dele está variando entre três e nove. Numa variação como essa, e em meio a uma música com vários outros instrumentos, a voz vai ficar aparecendo pra caramba em determinados pontos da música e totalmente sumida em outros. Aí é que entra o compressor!

Os controles mais comuns de um compressor são o “treshold” (limite), “ratio” (quantidade de compressão), e o “output gain” (volume de saída). Vamos voltar ao exemplo do vocalista. Digamos que o nosso “treshold” seja colocado em cinco, agora toda a vez que a voz dele passar de cinco o compressor vai começar a atuar. Se colocarmos o controle de “ratio” no máximo, qualquer coisa que ele cantar acima do volume cinco será comprimida e o volume de saída será no máximo cinco. Com isso conseguiremos uma constância muito maior de volume na voz dele, porém, o nosso volume geral será menor, para isso é que existe o controle “output gain”, onde podemos aumentar o volume de saída. Vamos aumentar o volume de saída para quatro. Agora o nosso volume máximo, que era cinco, será nove (cinco mais quatro) e nosso volume mais baixo que era três será sete! Assim conseguimos um volume geral bem maior, e uma variação de volume bem menor, com isso, a voz de nosso amigo estará bem mais presente durante toda a música. Isso se aplica também a qualquer outro instrumento. Como vocês podem ver o compressor é importantíssimo.

O Noise gate
Outro processador muito importante. Vamos usar novamente um volume de zero a dez? Ok, digamos que um baterista está tocando a caixa da bateria num volume sete, mas seu chimbau pode ser ouvido através do microfone da caixa no volume quatro. Aí quanto mais você aumenta a caixa, mais aumenta também o seu chimbau, é neste caso que entra o noise gate. O noise gate (algo como “portão de barulho”), possui como controles mais comuns o “threshold” (limite) e o “decay time” (tempo de demora de fechamento). Agora vamos ajustar o “decay” em cinco. O noise gate vai “fechar” o som do microfone, que só se abrirá após algum som acima do volume cinco seja tocado, sendo assim o nosso chimbau não vai mais encher o saco! Só que a nossa caixa está com um som de “plec, plec, plec”… Eu sei o que aconteceu, o “decay” (tempo de duração) de nossa caixa, foi pro brejo. Mas não esquenta não, é só aumentar um pouco o tempo de “decay” do noise gate que as coisas vão soar bem mais naturais. O noise gate deve ser usado com muito cuidado, afinal qualquer pequeno toque da caixa que esteja abaixo do “threshold” vai sumir. Use com moderação e somente quando necessário.

Bom, agora que já esclarecemos algumas coisas sobre os processadores, vamos aos efeitos!

Efeitos baseados em tempo, Delay e Reverb
O “delay” ou “echo” (ou eco, porra!), nada mais é do que a repetição, tição, tição, tição, de um determinado som. Os controles mais comuns são “time” (tempo do delay), “feedback” (quantidade de repetições) e “effect level” (volume do efeito).

Quanto maior o “time”, maior o tempo de demora entre o som original e as repetições. Quanto maior o “feedback”, maior a quantidade de repetições. Com esse controle no mínimo, você terá apenas uma repetição. Quanto maior o “effect level”, mais alto o “delay” estará em relação ao som original. Uma das coisas mais divertidas é “brincar” com os efeitos de um pedal de “delay”, acho que foi assim que David Gilmour do Pink Floyd surgiu com o arranjo das primeiras partes de “Another Brick In The Wall”, e como The Edge do U2 surgiu com o arranjo de “Where The Streets Have No Name”. Experimente várias formas de usar, além de ser muito legal pode vir a ser muito útil.

O “Reverb” é formado por centenas e centenas de delays. Quando o som acontece num determinado ambiente ele bate numa das paredes, reflete em outra, no teto, no chão e volta pra nós como vários “delays” de tempo diferentes, que se juntam e formam o que chamamos de “reverb”. Existem vários tipos de “reverb” diferentes, que simulam os mais diversos ambientes. Os mais comuns são “Room” (uma sala pequena), “Hall” (um “salão”), “Plate”, que simula o som refletindo numa bacia de metal, essa era uma das formas de se conseguir “reverb” quando surgiram as primeiras gravações, eles colocavam a bacia perto de quem estava cantando e punham um microfone dento dela! “Spring” (mola), que simula o “reverb de mola”, muito comum nos amplificadores de guitarra antigos, aquele som de guitarra de “Surf Music”. Geralmente você tem o controle de “time” (quanto tempo dura o reverb), algum tipo de equalização do “reverb”, para deixá-lo mais brilhante, e o controle de “mix” para ajustar a quantidade de “reverb” em relação ao som original.

O “Flanger”, também pode ser considerado um efeito de tempo, só que ele é um efeito de “tempo variável”. Se você ajustar o tempo de um “delay” em menos de trinta milésimos de segundo, e aumentar a quantidade de “feedback”, você conseguirá um som meio “entubado”. Quanto menor o tempo do “delay”, mais aguda é a tonalidade do “tubo”. Agora se você variar periódicamente o tempo do “delay” entre dez e um milésimo de segundo, você consegue o efeito de “flanger”. O “phaser” funciona mais ou menos da mesma forma, só que o “delay” varia apenas entre zero e um milésimo de segundo.

Efeitos de pitch
Acho que o primeiro efeito de “pitch” (afinação), foi o oitavador. Com ele você consegue uma reprodução do som original, uma ou duas oitavas abaixo. Depois disso, surgiram os efeitos de “pitch shifter”, com os quais você conseguia qualquer intervalo (terças, quintas…) da nota original. Só que os intervalos eram fixos, logo, quando você escolhia uma terça maior da nota original, ela era sempre uma terça maior, o que não é muito musical, pois ela não varia entre terça maior e menor, como as escalas musicais fazem. Para resolver esse problema, foram criados os “pitch shifters” inteligentes, neles você pode ajustar a tonalidade em que está tocando e ele varia de forma inteligente os intervalos entre maiores ou menores. Eles também são chamados de “harmonizers”, e às vezes podem reproduzir vários intervalos da mesma nota simultaneamente, criando verdadeiros “corais”!

Efeitos de pitch e delay
Da combinação do “pitch” com o “delay”, conseguimos alguns novos efeitos muito interessantes. O “chorus” por exemplo, consiste de um “delay” muito curto, mas com “pitch” varável, é como se duas pessoas tentassem cantar a mesma nota simultaneamente. Sempre haverá uma pequena diferença de tempo e de afinação, o que dá uma “engordada” no som. Por isso o nome “chorus” (coro). Os controles são bem simples, o “rate” controla a velocidade da modulação e o “depht” controla a intensidade da modulação.

Existem também “delays” com modulação, ou seja, a cada repetição o “pitch” se altera. Não é um efeito muito útil, afinal um “delay” desafinado em relação ao som original, não é muito agradável, mas não deixa de ser interessante.

Bom, aí foi uma breve explicação sobre os diferentes tipos de efeitos, como disse no início da matéria, o assunto é muito abrangente, mas espero poder ter “clareado” um pouco as coisas pra vocês. Se tiverem algumas dúvidas ou sugestões, me escrevam.

Um abraço a todos e ‘Keep on Rockin’.

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