E agora José? O dinheiro acabou…

Publicado originalmente no site Rockonline em 15/09/2001

JoseE aí galera, beleza? Espero que tenham gostado da matéria do mês passado, se você ainda não leu a do mês passado, procure nos arquivos do Vitrine.

O texto deste mês é dedicado especialmente a todos aqueles que fizeram uma gravação e gastaram muito mais do que era previsto no orçamento original, ou seja, minha matéria deste mês destina-se a mais ou menos 95% dos músicos!!!

Com um planejamento mínimo, um pouco de discernimento, e bastante disciplina, é possível se fazer um orçamento para gravação com uma margem de erro mínima. Um projeto de gravação pode começar por três perguntas básicas: Pra quê? Quando? E Quanto?

Então você vai gravar a sua banda, não é mesmo?

Pra quê? Para ter uma fita de demonstração razoável para arranjar alguns shows.

Quando? O mais rápido possível

Quanto? Nós temos ao todo R$100,00

Solução: Vá até um bom estúdio de ensaio, que faz gravações “ao vivo”, e que custe em torno de R$20,00 por hora. Com os seus R$100,00 você poderá gravar quatro horas e comprar as “mídias” necessária para a gravação (CD, MD, DAT, Cassete, etc).

Use a primeira hora e meia para “timbrar” e equilibrar os instrumentos, junto com o técnico do local (sem preciosismo, nesta situação um som razoável é mais do que suficiente!) e no restante do tempo faça a melhor performance de sua vida.

Pronto! As três perguntas foram respondidas, sua demo está em suas mãos em apenas quatro horas de trabalho, e você gastou somente os seus cem reais. Simples, não é mesmo?

Mas, se você pretende gravar uma demo com um resultado melhor, para procurar uma gravadora, ou mesmo para vender, temos que pensar em outro tipo de organização. Vamos começar agora com um conceito chamado “hora por minuto”, ou seja quantas horas de gravação você vai usar para conseguir um minuto de música. Vamos usar como exemplo músicas de quatro minutos, e não vamos falar diretamente sobre os custos. Basta multiplicar o preço da hora do estúdio onde você pretende gravar pela quantidade de horas que você vai usar (acho que isso foi meio óbvio, não é mesmo?).

Se você tiver uma hora por minuto, você terá quatro horas para gravar cada música de quatro minutos.

Aí vai uma idéia de como fazer

– 1 hora por minuto:
1h00 – Montagem e passagem de som de todos os instrumentos
1h00 – Gravar a base com todos os instrumentos gravando juntos
1h00 – Gravar a voz e algum instrumento de solo
1h00 – Para a mixagem da música.

Ok, todos sabemos que uma gravação feita nestas condições pode deixar bastante a desejar, mas se é o que o orçamento comporta, que assim seja.

– 2 horas por minuto:
Mas e se você tivesse duas horas por minuto? Oito horas por música.

2h00 – Montagem, microfonação e gravação de bateria, baixo e guitarra base ou teclado tocando juntos
2h00 – Overdubs de guitarra, ou teclados
2h00 – Gravação de voz e coro
2h00 – Para a mixagem da música

Neste caso o resultado já pode ser bem melhor do que no caso anterior.

– 3 horas por minuto:
Agora três horas por minuto. Em doze horas por música, a coisa começa a ficar interessante.

2h00 – Montagem, microfonação, e gravação da bateria
1h00 – Gravação do baixo
1h30 – Gravação das gtrs de base, violões, separadamente
1h30 – Gravação dos teclados
1h00 – Gravação dos solos
2h00 – Gravação de voz e coro
3h00 – Para a mixagem da música

Alguns dos discos independentes são feitos desta maneira. Ainda não é o ideal, mas com um certo cuidado, e objetividade é possível ter uma gravação bem legal.

– 4 horas por minuto:
Em quatro horas por minuto, você terá dezesseis horas por música. Aí já existe a oportunidade de experimentar instrumentos diferentes, e de ter mais cuidado com timbres e com a mixagem.

3h00 – Montagem, microfonação, e gravação da bateria
1h00 – Gravação do baixo
2h30 – Gravação das gtrs de base, violões, separadamente
2h30 – Gravação dos teclados
1h00 – Gravação dos solos
2h00 – Gravação de voz e coro
4h00 – Para a mixagem da música

Com mais cuidado em alguns timbres, e um tempo maior para a mixagem, o resultado com certeza, pode ser bem melhor.

– 5 horas por minuto:
Agora o que eu considero o mínimo para uma gravação de nível realmente profissional, são cinco horas por minuto, vinte horas por música.

3h00 – Montagem, microfonação, e gravação da bateria
1h30 – Gravação do baixo
3h00 – Gravação das gtrs de base, violões, separadamente
3h00 – Gravação dos teclados
1h30 – Gravação dos solos
3h00 – Gravação de voz e coro
5h00 – Para a mixagem da música

E assim segue. Quanto mais horas você puder utilizar, mais você poderá experimentar no estúdio, e se você tiver um bom discernimento, melhor será o resultado de sua gravação.

O segredo para que isto funcione, consiste em adequar o sistema para o caso em que você se encontra. Se você tem um excelente guitarrista, que não tem “frescuras” para achar o som e para gravar, você pode utilizar menos tempo para que ele grave. Se o seu baixista tem grandes dificuldades com ritmo e pegada, você vai precisar de mais tempo para gravá-lo. Se sua banda tem um percussionista, ou um naipe de metais, você vai precisar calcular o tempo de gravação deles também, pois em todos os exemplos que dei eu não usei estes elementos.

Se você prestar atenção em cada uma das situações apresentadas, perceberá que o tempo para a mixagem foi aumentando. A cada vez que aumentávamos uma hora por minuto, somávamos uma hora de mixagem, porque a mixagem é fundamental para uma boa qualidade de som. Nunca grave em trinta horas e mixe em uma hora. O resultado final é resolvido na mixagem, e uma mixagem mal feita põe a perder todo um trabalho bem feito.

Um ponto importante
Uma demo deve ter no mínimo duas, e no máximo três músicas gravadas. Sempre vejo bandas gravando cinco, dez, quinze faixas de má qualidade para enviar para gravadoras. Um executivo de uma gravadora raramente ouvirá mais do que duas músicas de uma demo (aliás, você terá sorte se eles ouvirem uma), então não gaste seu dinheiro a toa, invista em apenas duas músicas, mas faça uma gravação de maior qualidade. As vezes mesmo executivos de gravadoras tem dificuldades em diferenciar uma gravação ruim de uma música ruim.

Pensando em baratear os custos, use um estúdio que grave em ADAT ou Pro-Tools, porque as mídias com as quais estes sistemas trabalham são bem mais baratas. Por exemplo: Você vai pagar uns R$30,00 por fita de ADAT (você precisa de três fitas para gravar 42 minutos em 24 canais), já o Pro tools grava em Hard Disk, mas você pode copiar as sessões e os arquivos de áudio para CDR (que custa de um a cinco reais, dependendo do tipo da mídia, e você vai precisar de um ou dois CDRs por música).

Se você quiser gravar em fita de rolo analógica, melhor repensar o seu orçamento, pois você vai pagar em torno de R$500,00 por fita para gravar quinze minutos em 24 canais. Se o som é melhor? É relativo. Já vi gravações feitas em cassete com um puta som, e gravações feitas em grandes estúdios, com as melhores condições, mas com um resultado sofrível.

Faça uma boa performance, tenha cuidado com os timbres e capriche na mixagem. Eu te garanto que desta forma qualquer mídia te dará um resultado satisfatório.

Tenho recebido vários e-mails de pessoas que leram a matéria anterior. Algumas escrevem para me parabenizar, outras para solucionar dúvidas e etc. Eu só queria agradecer a todos que me escreveram, e se você tiver alguma dúvida, alguma crítica a fazer, ou alguma sugestão para a matéria, é só falar.

Um abraço a todos e ‘Keep on Rockin’.

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