Biografia

Apesar das duas coisas se misturarem muito, resolvi dividir a minha biografia em duas partes: a música e a produção musical

A música

Eu nasci em 11 de janeiro de 1971, em São Paulo, numa maternidade na Pompéia, bairro conhecido por ser um dos berços do Rock and Roll paulista. Mas eu só iría descobrir isso muito mais tarde… Fui criado no Braz, na época um bairro tipicamente siciliano. Sendo descendente de Sírios e espanhóis, mas vivendo na “Sicília” brasileira, fui criado a base de macarrão com kibe nos domingos, hehehe.

Minha formação musical também não foi muito diferente. Lembro que o primeiro artista que ouvi com muita atenção (e considero o cara genial até hoje) foi Roberto Carlos, mas o que realmente mudou a minha vida me fez querer ser músico veio algum tempo depois.

Em 8 de dezembro de 1980, John Lennon, guitarrista, cantor e compositor, ex integrante dos Beatles, foi assassinado na porta do prédio onde morava com cinco tiros nas costas. Em março de 1981 o Queen veio pela primeira vez ao Brasil. Esses dois fatos fizeram com que os garotos da minha escola se interessassem pelos discos das duas bandas e logo trocávamos cassetes com essas músicas e pensávamos em montar nossas próprias bandas. Mais tarde o pai de um amigo nosso voltou da inglaterra com o The great Rock and Roll Swindle dos Sex Pistols e o pai de outro voltou dos EUA com o Alive I do Kiss. Com isso, mais a descoberta do Highway to hell do AC/DC o dano estava feito! Só conseguia pensar em música e no dia em que colocaria meus pés no palco pela primeira vez.

O Kiss veio para o Brasil em 83 e pouco depois os irmãos Wagner e Frank Wilson compraram uma guitarra e uma bateria e meu irmão Carlinhos comprou uma guitarra. Eu estava doido pra montar uma banda, mas não tinha instrumento e não sabia cantar… Olhando a contra capa do Please please me dos Beatles vi que tinha uma tal de “guitarra baixo” que Paul McCartney tocava. Decidi que era isso que iria tocar! Sim foi assim que escolhi meu instrumento!

Pouco mais tarde montamos a primeira banda, que tinha o nome de Shock (Por causa da musica Shock me do Kiss), a banda era formada por Cassiano Oliveira na bateria, Ruy Varallo nos vocais Carlinhos e Wagner nas guitarras e eu no baixo. O Frank não quis ficar. Com a “seleção natural”, que ocorre em toda banda, acabamos ficando apenas Cassiano, Carlinhos e eu e formando a banda Pozzeidon (os dois zz foram idéia do Cassiano, era pra diferenciar, hehehe).

Com essa banda ficamos por seis anos, gravamos duas demos, uma participação numa coletânea que acabou não sendo lançada e fizemos muitos shows, só pra ter idéia, em 89 fizemos 45 shows… Todos os finais de semana tínhamos show. Em 90, Cassiano resolveu deixar a banda e com isso ela acabou.

Acabei tocando em bares, primeiro com o Complexo B, que era um trio de Hard Rock com Acácio Vaz na guitarra e Ney Gomes na bateria, onde eu tocava baixo e cantava. Aprendi muito nessa época, Ney e Acácio já tinham muita experiência e repertório, eu era o “garoto” da banda. Pouco tempo depois fomos contratados pra acompanhar a dupla sertaneja Marcio e Marcel (com a mesma banda de hard… hehehe). Foi uma época divertida, aprendi bastante sobre improvisação e transposição de toms, já que cada dia o vocalista queria cantar num tom diferente, cada vez por um motivo diferente, “hoje minha voz não está boa, vamos fazer meio tom abaixo…”.

Em 93 eu e meu irmão gravamos uma demo onde tocamos todos os instrumentos. A ideia era encontrar os músicos pra montar uma nova banda. Montamos a banda The Big Spender onde ele tocava guitarra, Wagner Fulco tocava baixo e Hassune Akl tocava bateria. Eu fazia vocal, violão e teclado em algumas músicas. Compusemos umas músicas e tivemos várias mudanças de formação. A única que me lembro foi com Cláudio Sanches no baixo e Ney Gomes na bateria. Com essa fizemos nosso único show. A demo dessa banda é que deu abertura pra eu começar a trabalhar seriamente com áudio, mas isso fica pra parte da bio do produtor…

Em 94 recebi a notícia de que eu seria pai e em 95 meu filho Paulo Papellas Anhaia nasceu. Com ele tudo mudou na minha vida, comecei a trabalhar que nem um doido, porque tinha mais uma pessoa que dependia de mim e não conseguia ter tempo pra continuar com o lance de banda.

Em 98, já mais tranquilo e necessitando muito do convívio de banda, montei junto com Renato Rocha (guitarra) e Evandro Mello (bateria) a banda MonsteR, uma banda que mesclava Heavy Metal, Hard Rock com uma pegada Thrash (confuso, né? Mas soava bem!) Nos rebatizamos para: Renato Stone, E.V. Sword e Paul “X” (sim, eu!) numa brincadeira que fizemos por causa dos caras do Twisted Sister, (Jay Jay French, Dee Snyder, A.J. Pero…. Porra, esses caras não tem nome??? Hehehe), a brincadeira funcionou, tanto que até hoje muita gente me chama de Paul. Cortei os lados do meu cabelo comprido, fazendo uma espécie de moicano estranho e o tingi de preto, criei um personagem que chamava muito a atenção das pessoas. Era divertido!

Com essa banda gravamos três Cds, dois Dvds, uma demo e três singles. Fizemos muitos shows, alguns muito bons, como o Brasil Metal Union no DirecTv Music Hall, ou o Festival da Tribo, no centro de São Paulo e outros não tão bons… hehehe.

Em 2007, o Renato começou a “empurrar a banda com a barriga” e nós o mandamos embora. Alguns meses e algumas audições depois, entrou na banda Luiz Portinari, que ficou um ano com a gente até que decidimos acabar com a banda.

Porque? Pra ser rápido e objetivo: Não estava mais sendo divertido. Ter uma banda dá muita dor de cabeça, mas o tempo que passamos fazendo música e fazendo shows, compensa todo o resto. Quando mesmo isso passa a ser meio chato é hora de parar. Estávamos precisando de renovação, renovação de estilo musical, de lugares pra tocar e etc.

Atualmente, Evandro e eu estamos preparando um novo trabalho musical, mais diversificado, pensando em apresentar em teatros, ao invés de bares… Mas tudo ainda está muito “cru”…

Essa historia não acaba aqui! Assim que tivermos novidades vou divulgando pra vocês.

A Produção Musical

Acho que a primeira vez que percebi que deveria trabalhar com áudio foi quando fomos gravar a primeira demo-tape do Pozzeidon (minha banda), em 1987. Tinha um microfone no amplificador de guitarra, que quando se aumentava o agudo, ganhava definição, mas perdia peso. Quando aumentava o grave, ganhava peso e perdia definição. Propus ao técnico de colocarmos dois mics, pra puxar o agudo em um e o grave em outro.

A primeira reação dele foi: Veja bem, quando se colocam dois mics numa mesma fonte, você pode ter problemas com a fase e etc… Eu era bem folgado com 16 anos… Falei pra ele: Cara, não quero saber se você tá numa boa, ou numa má fase, tô pagando essa merda, vai lá e põe o segundo mic!

Pra minha sorte, o som ficou melhor mesmo!

Depois em 1988, o Pozzeidon ia fazer um show e o Álvaro Vilalba, (que era nosso brother e quebrava o galho de técnico). Sofreu um acidente de carro. O carro foi pras picas! Mas o Álvaro ficou bem. O Show? Eu que montei e operei o equipamento. Era um Show com 5 bandas no Colégio Paulo Egydio (Vila Maria – SP). Ao término do show algumas pessoas vieram elogiar o som e até perguntar quanto ficava pra alugar o equipamento pra outros shows (equipamento que montamos com coisas emprestadas por vários amigos…)

Logo meu pai montou um sistema de som e passamos a organizar shows com bandas pequenas e a locar esse equipo para eventos. Fizemos de tudo um pouco, casamentos, festivais, Formaturas… Onde tinha trampo, a gente estava!

No início dos 90 eu peguei um gravador Fostex de 4 canais em cassete de (era meu sonho de consumo na época) emprestado com meu amigo Flávio Lima e gravei uma música da banda do Renato (que mais tarde iria formar o MonsteR comigo). A banda se chamava Stonehenge e a música Incarcerated. Eu produzi o trabalho, mesmo sem saber direito o que era uma produção.

Nessa época também trabalhei como técnico de som da banda de heavy metal Viper. Nem sei como fazia aquilo!! Eu era totalmente inexperiente e de repente estava operando o som na abertura do show do Black Sabbath na praça de atletismo do Ibirapuera… Pouco depois, foi o estádio do Pacaembu, no Monsters of Rock! Porra, o Kiss e o Slayer eram as atrações principais!!! Depois fiz com eles a abertura do Metallica no estádio do Palmeiras… porra, Metallica, turnê do Black Album… Eu assisti sentado no chão do palco, do lado do Kirk Hammet!!! Com o Viper fiz vários shows fora de São Paulo, Curitiba, Rio… Foi uma ótima experiência.

Nessa época comprei meu primeiro multitracker! Um Yamaha, modelo MT3X… Lindo, todo preto! Gravava em 4 canais em cassete também (na época não tinha essa de gravar em computador… Aliás, computador era coisa de banco!!!) Fiz muita coisa nele, me diverti demais com essa máquina, gravava todos os dias.

Meus amigos da banda Fates Prophecy me chamaram pra produzir meu primeiro trabalho em estúdio (o estúdio era do Arthur, ex-guitarrista do Salário Mínimo). Era uma demo com duas faixas, gravadas num sistema de 16 canais de rolo! Eu estava no céu! Foi incrível!

Quando eu comecei a gravar no Yamaha, o Pozzeidon já tinha acabado e meu irmão e eu, estávamos ouvindo muito Eagles, Extreme, Mr. Big… Além dos Beatles e do Queen, pra variar, hehehe. Resolvemos montar uma banda que juntasse tudo isso. Como tínhamos o multitracker, gravamos duas faixas, só nós dois tocando todos os instrumentos. A idéia era com essa gravação procurar a galera pra formar uma banda nova.

A banda se chamou The Big Spender e durante um ano tentamos mantê-la, mas passaram pelo menos uma dúzia de músicos diferentes por ela.

A banda não deu certo, mas a fita demo do Big Spender deu!!! Alguns dos roadies do Viper tinham montado uma banda nova, chamada Party Up. Eles ouviram a demo da minha banda, curtiram e me chamaram pra produzir uma demo deles. Fomos pro estúdio do Arthur, dessa vez gravamos em 24 canais digitais, era o surgimento do Adat e a popularização da gravação digital… Ótima fase, muita gente talentosa cresceu nessa época, já que o equipamento passou a ser mais em conta.

A demo chamou a atenção de uma gravadora, a Banguela Records, gravadora da galera dos Titãs com o Produtor gaúcho Miranda. A gravadora assinou um contrato com a banda, gravou o álbum, mas por algum motivo ele não foi lançado… Alguns anos depois algumas dessas músicas foram lançadas pela mesma banda em outra gravadora, só que dessa vez a banda foi rebatizada como Toy Shop.

A galera da Banda das Velhas Virgens tinha contato com a galera do Party Up e através deles ficaram sabendo de meu trabalho. Eles queriam gravar um primeiro Cd e precisavam de um produtor… Conversamos e chegamos a um acordo!

Paulo de Carvalho, vocalista do Velhas, trabalhava no SBT e de lá conhecia o Gilson, que falou sobre um novo estúdio de 32 canais digitais no Jaçanã… Porra, 32 digitais no Jaçanã??? Como assim! Fomos checar e acabamos conhecendo o Estúdio 43. Mal sabia eu que iria passar 3 anos trabalhando lá…

Logo no início das gravações, tivemos um desentendimento com o Gilson (sim, o cara que indicou o estúdio!) Ele não estava na mesma vibe do resto da galera. Toninho Lorenzetti, um dos donos do estúdio, colocou um outro técnico pra finalizar a gravação com a gente e depois o próprio Toninho deu andamento na mixagem.

Com uma viagem marcada pra Miami (ele trabalhava com importação de equipamentos) ele não teve como finalizar o trabalho. com a banda precisando do material e o Toninho alongando a viagem por mais um tempo, liguei pra ele e me responsabilizei pela mix.

Ele me passou umas dicas da automação da mesa e combinamos que ao voltar ele ouviria e refaríamos o que fosse necessário. Ele voltou, ouviu e me chamou pra trabalhar no estúdio…

Nessa época eu e minha namorada, Patrícia, ficamos grávidos, hehehe, a grana da produção do Cd do Velhas pagou o parto de meu filho, Paulinho, que nasceu em 22 de janeiro de 1995. Serei eternamente grato aos Velhas por isso.

Passei a trabalhar no Estúdio 43, onde fiz vários trabalhos que adoro até hoje. Fiz dois Cds da banda Gospel Resgate (o Marcelo foi meu aluno de baixo e o Hamilton aluno de guitarra de meu irmão. Eram também amigos nossos de colegial), um Cd do Oficina G3 e um do Katsbarnea. Esses Cds mudaram um pouco o conceito de gravação de rock gospel no Brasil, coisa que me deixa muito orgulhoso.

Fiquei por 3 anos trabalhando no Estúdio 43, gravando de tudo um pouco, samba, forró, brega, música de louvor… Foi uma puta escola, aprendi muito com tanto com o Staff de lá, quanto com os clientes.

Um dia cheguei em casa e meu pai me disse que Rick Bonadio tinha ligado e que queria falar comigo. Eu o conhecia de vista, primeiro na gravação do Primeiro Cd do Resgate (que ele produziu) e meu irmão emprestou o Marshall pra gravar. E depois fui uma vez até o Estúdio Bonadio com o Toninho do Estúdio 43 pra entregar uns Cdrs pra ele (Não vendia em quaqluer canto, era coisa rara e cara na época). Rick já era famoso pelo seu trabalho com os Mamonas assassinas, que nessa época infelizmente já haviam falecido num acidente trágico.

Falei com ele, nos encontramos e ele me mostrou o estúdio novo que estava construindo. Fui até o bairro Jardim São Bento e conheci o esqueleto do que viria a ser o Estúdio Midas. Mal eu sabia que grande parte das músicas de sucesso do Brasil dos próximos anos, seriam gravadas naquele local. Mal eu sabia que eu teria o privilégio de trabalhar nessas gravações…

Comecei a trabalhar com o Rick no Estúdio Bonadio, que ficava nas Palmas da Catareira, a idéia era ficar lá até o Midas estar completo e operando.

Trabalhei por um ano nesses dois estúdios: 43 pela manhã e Bonadio à tarde. Com o Midas finalmente funcionando, resolvi deixar o trabalho do 43.

Acho que o primeiro trabalho que fizemos lá, foi o segundo Cd do Charlie Brown Jr, produção do Rick e do Tadeu Patolla, (com quem eu iria trabalhar muito nos anos seguintes). Esse Cd foi um sucesso absoluto, com uma vendagem de mais de 500 mil cópias e com uma música que ficou na abertura do seriado da Globo, Malhação, por uns 7 anos… Charlie Brown é uma puta banda!

Um tempo depois o Rick me chamou pra co-produzir, com ele e Rodrigo Castanho o Cd de uma banda que ele tinha contratado chamada CPM 22. Esse foi meu primeiro Cd de ouro como produtor. Com o CPM fizemos até agora 5 Cds, todos são disco de ouro e o mais recente recebeu o Grammy Latino de melhor album de rock… Quem diria que uma banda de HC cantado em português iria fazer esse barulho todo??? Gosto muito de trabalhar com o CPM, eles são extremamente eficientes e são gente finíssima! O show deles é uma música boa atrás da outra e uma puta energia… Mesmo quem não é fã acaba dando o braço a torcer

Um dos trabalhos que mais gostei de participar foi o segundo Cd do Rouge, onde fiz os arranjos vocais, direção e treinamento vocal. Estava trabalhando mais como engenheiro de som na época e poder usar o conhecimento musical de novo, ainda mais com vozes e pessoas tão especiais como as meninas do Rouge, foi excelente… Ouvi-las cantar acapella no estúdio era uma coisa indescritível e pude ouvir isso muitas e muitas vezes.

Trabalhei também, como técnico e diretor vocal com a galera do NX Zero, uma banda que cresceu muito e que sempre me impressiona… Eles são um grande sucesso, grandes caras e cada dia trazem novidades em sua música. Adoro essa banda.

As trilhas de novelas em que trabalhamos, Floribella e Dance, Dance, Dance foram muito legais também. Pela primeira vez dirigi a voz de atores e cheguei a conclusão que todo cantor deveria fazer um curso de teatro, hehehe, como facilita as coisas!! Juliana Silveira e Juliana Barone, são lindas, simpáticas e muito talentosas! foi ótimo trabalhar com elas.

Recentemente pude co-produzir, também com o Rick e o Rodrigo, o Cd Redenção do Fresno, puta banda boa!!! Melodias e Harmonias de muito bom gosto, letras bem encaixadas, galera gente boa a trabalhadora… Esse também se tornou Cd de ouro. É uma banda que acho que vai ficar por aí por muito tempo também.

Essa parte da minha história é mais conhecida porque vários trabalhos que participei tiveram muita repercussão. É só ver a parte “portfolio” nesse site pra ter uma idéia. Mas como disse na biografia do músico: Essa história não acaba aqui… Tenho muito o que aprender e o que compartilhar com outros profissionais do meio musical…

Aguardem cenas dos próximos capítulos…